Na década de 30, o escultor judeu Kyril descobriu um segredo capaz de mudar a história do ascendente regime nazista. Para garantir a segurança da informação, o artista cria cinco bustos do compositor alemão Richard Wagner e esconde o documento na base de um deles. Sabendo disso, a Gestapo, polícia secreta da Alemanha, começa uma caçada louca em busca dos bustos. E essa procura acaba por envolver o jornalista japonês Souhei Touge (峠草平) e três homens que compartilham o mesmo nome: Adolf.
Adolf Kamil (アドルフ・カミル) é filho de refugiados judeus radicados em Kobe e descobre por acaso o segredo do busto quando este escapa da Alemanha. Por acaso, a informação vaza para Adolf Kaufmann (アドルフ・カウフマン), filho de uma japonesa com um diplomata alemão que tem de enfrentar o preconceito da sociedade judia de Kobe e também do próprio pai, que é agente secreto do partido nazista. O terceiro é o próprio führer, Adolf Hitler (アドルフ・ヒトラー).
É esse clima de mistério e incerteza que predomina em Adolf ni tsugu (アドルフに告ぐ, literalmente Diga a Adolf), a nova obra de Ozamu Tezuka publicada no Brasil, com o título simplificado de Adolf. Para quem estava acostumado com Buda, a história promete muitas surpresas, começando pelo estilo do traço, muito mais detalhado que seu antecessor. O humor também está presente, mas de forma mais sutil, ainda que totalmente tezukiana, já que este não é um mangá de comédia.
Os temas discutidos vão desde o preconceito racial até as bases do nazismo, os quais Tezuka recheia com referências à filosofia (Nietzche), à arte (Wagner) e à literatura política (Mein Kampf, o livro escrito pelo führer). Durante as Olimpíadas de Berlin, em 1936 (ano no qual a história começa), o partido nazista, que completa dez anos com Hitler no poder, se engaja em uma campanha populista para converter as massas à sua ideologia. A demagogia não passa despercebida pelo olhar crítico do autor. "Tem algo errado com o nazismo. Mais cedo ou mais tarde a máscara vai cair...", sentencia Touge.
Aspectos mais pesados da história são vistas de forma mais intimista. Diferente de Buda, onde a luta pela sobrevivência servia de justificativa para a violência, agora ela é usada gratuitamente, como objeto de opressão. A própria morte é sentida pelos personagens: ela é o castigo por um comportamento subversivo que contrarie os interesses dos donos do poder.
Apesar das diferenças, Tezuka continua a apresentar personagens aos poucos, em histórias paralelas que tendem a se unificar continua. O leitor não sabe muito mais do que Touge, e é levado descobrir as peças do mistério junto com ele, se surpreendendo a cada revelação. E qual seria, afinal, o grande segredo do nazismo? A resposta está nas páginas de Adolf, que chegou para consolidar a posição de seu autor como um dos grandes nomes do mangá.
Foto: Devendo crédito.
14 de mai. de 2006
Intriga e suspense na Alemanha nazista
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